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Foto do escritorCláudia Rolim

Os Amores de Clara une Brasil e Portugal numa história emocionante

Atualizado: 29 de dez. de 2023

Em Os Amores de Clara, a escritora e pedagoga Simone O. Marques homenageia todas as mulheres que lutaram por uma sociedade mais igualitária no Brasil do século XX. Inspirada nas memórias da tia-bisavó, a autora também reconhece a luta dos imigrantes portugueses e italianos que vieram ao país com a promessa de melhores condições de vida, porém enfrentaram condições precárias de trabalho. O Viajando de Lá Pra Cá conversou com a escritora Simone O. Marques. Confira a entrevista.



VLPC : Simone, o que a levou a contar a história da sua tia-bisavó? De que lugar de Portugal é a sua tia-bisavó?

Simone O. Marques: Eu me lembro de ter ouvido a história da minha tia-bisavó algumas vezes, uma dessas vezes foi contada por ela mesma. Eu sempre achei incrível o fato de ela ter aprendido a ler e escrever de cima do telhado. Eu era criança e fiquei impressionada de imaginá-la escalando uma cerca, subindo em uma árvore, afastando uma telha e espiando a sala de aula. Ela era uma senhorinha simpática, com os cabelos grisalhos presos em um coque, que andava com dificuldade e, no meu olhar de criança, era algo incrível de imaginar. Até por isso, no livro “Os Amores de Clara”, eu quis escrever essa história partindo do olhar infantil e ir amadurecendo conforme a personagem cresce. Na minha família, na época, nos idos dos anos 1970, minha avó falava orgulhosa que a tia tinha escrito um livro contando essa história e outras coisas de sua vida. Só bem mais tarde eu percebi a importância daquilo tudo, principalmente porque a tia nunca havia frequentado a escola e, ao reler o livro dela quando eu já era adulta, percebi coisas que não havia percebido antes, a amargura que ela carregou e a falta de amores em sua vida. Por isso quis lhe dar os amores, a esperança, uma maneira de a homenagear.  A minha tia-bisavó, assim como grande parte da minha família paterna, veio do distrito de Vila Real na Província de Trás-os-Montes.

 

VLPC: Você conhece a terra da sua tia-bisavó?

Simone O. Marques: Eu fui conhecer a terra dela e dos meus parentes em 2013. Fui para Vila Real atrás de registros da família, porque a única coisa que tinha era o registro de chegada da família ao Brasil, que consegui no Museu da Imigração em São Paulo, e descobri que eles deviam ter saído da zona rural. Vila Real é um lugar lindo e, quando o conheci, cheguei a pensar no porquê a família se adaptou ao interior de São Paulo, porque a cidade se parece com algumas cidades daqui, inclusive na geografia. Quero voltar e ampliar minha exploração pela região e quem sabe descubro a pequena localidade rural de onde minha família, entre eles minha tia-bisavó, partiu.

 

VLPC: Sua tia-bisavó teve que se esconder para conseguir aprender a ler e a escrever. Hoje, a sobrinha-bisneta escreve a história do passado. Há um misto de orgulho, de vitória ao escrever essa história?

Simone O. Marques: Sim! Eu sinto que conquistei algo que ela havia sonhado, mesmo sem saber que eram esses os sonhos dela. Ela quis ir para a escola, e eu pude estudar e ir além, fiz magistério, pedagogia, mestrado em educação e me tornei uma escritora com mais de 30 livros escritos e 28 publicados. Nossas histórias, mesmo que distantes cronologicamente, se cruzam e eu sinto que ofereci a ela um pouco das flores que ela desejava ver florescerem ao contar um pouquinho de sua história, como também sei que faço uma homenagem às minhas avós, maternas e paternas, à minha sogra (filha de imigrantes italianos) e à minha mãe, que só fez até o quarto ano e sempre quis ser professora, mas não pôde trabalhar fora de casa. O meu livro é o meu amor e gratidão para todas elas.

 

VLPC: Como você vê a realidade da mulher nos dias atuais? Vencemos todas as lutas ou ainda há muitas barreiras a serem derrubadas?

Simone O. Marques: Com certeza vencemos muitas lutas, mas não todas. Vencemos em coisas importantes, como o poder do voto, a ocupação de locais importantes na política, na ciência, na economia, no mercado de trabalho, que ainda precisa aprender muito para incluir a mulher e ainda precisamos vencer o machismo. No início do século 1920, o lugar da mulher no Brasil, ainda era predominantemente a casa, onde eram as únicas responsáveis por criar os filhos. Na mesma época, elas precisavam da autorização dos maridos ou do pai para trabalhar e muitas delas só podiam trabalhar dentro de casa. Algumas profissões exercidas por mulheres eram mal-vistas e não havia políticas públicas voltadas às mulheres. Minha avó paterna foi trabalhadora de fábrica, depois de começar a trabalhar ainda criança como babá e lavadeira. Minha avó materna não podia trabalhar fora de casa, por isso trabalhou como costureira dentro de casa, ajudando a sustentar a família. Para elas, eu já lhes ofereci alegrias, porque fui a primeira da minha família a entrar para a universidade e elas se alegraram muito por isso. Há ainda batalhas a serem vencidas, sempre, mas certamente estamos melhor aparelhadas para enfrentá-las e vencê-las.



VLPC: Qual é a mensagem que você deixa para as meninas, jovens e mulheres?

Simone O. Marques: Não se deixem vencer pelos obstáculos. Olhem com afeto para o passado, vejam aquilo que nossas ancestrais viveram e passaram. Tentem compreender o contexto em que viviam, as dificuldades que se apresentavam e a maneira que descobriram para vencer os obstáculos. Pensem que nós, hoje, somos os sonhos que elas suprimiram, as esperanças que elas queriam ver florir. Pensem que muitas delas fizeram verdadeiras “limonadas com os limões que receberam”. Nas palavras da minha tia-bisavó, Clotilde, no final do seu livro A aluna do telhado: “Devemos deixar em nosso caminho um testemunho do que fizemos de bom e isso é dever de cada um, para que a vida não pareça amarga e insossa”.


VLPC: O livro pode ser comprado nas livrarias do Brasil e em Portugal também?

Simone O. Marques: Atualmente, o livro está disponível em versão digital no site da Amazon e pode ser comprado no mundo todo e lido em celulares e computadores também.


No enredo de "OS AMORES DE CLARA", Clara e a família se mudam de Portugal para o interior de São Paulo, com a crença de que teriam boas oportunidades de emprego na região. Quando chegam, descobrem estar em uma servidão por dívidas e precisam quitar o valor imposto pelo fazendeiro. Presa a esta realidade, mas ainda sem idade para entender a situação, a protagonista trava batalhas individuais ao sonhar em estudar.


Conforme fui crescendo, minha ânsia por aprender a ler e escrever também cresceu, mas meus pais tinham uma forte convicção sobre o mal que aquilo representava para uma mulher. E, naquilo, eram tão fortes quanto seus braços usando uma enxada. Tudo ficou ainda mais difícil, ou doloroso, quando construíram a escola na fazenda. (Os Amores de Clara, pg. 38)


Os pais acreditam que a garota deve cuidar do lar para se tornar uma esposa ideal, mas a paixão do irmão Romeu por histórias inspira Clara na busca por conhecimento. Teimosa, ela começa a assistir às aulas destinadas somente a meninos no telhado da escola. Todos os dias, entra na instituição com a ajuda do amigo Pedro e sobe até o topo do edifício para acompanhar as lições de longe e descobrir como formar palavras.


Na narrativa, a personagem recorda as próprias memórias através de uma perspectiva madura. Ao falar sobre o passado já na fase adulta, ela evidencia a inocência da infância, as desigualdades de gênero e os problemas financeiros da família na época - que antes passavam despercebidos sob o olhar da juventude.


Com uma linguagem simples, a obra percorre três décadas da trajetória da protagonista, até 1932, ano em que as mulheres conquistaram o direito ao voto no Brasil. A autora complementa: "este é um romance histórico que forma uma colcha de retalhos de vivências femininas no início do século XX, e a voz de Clara é parte das vozes de muitas mulheres que foram caladas por tanto tempo”.


FICHA TÉCNICA:

Título: Os Amores de Clara

Autora: Simone O. Marques

Editora: Som Books

ASIN: B0CD9J7VN6

Páginas: 131

Preço: R$ 11 (e-book)

Onde comprar: Amazon


Sobre SIMONE O. MARQUES, a autora :




Graduada em Pedagogia e mestre em Educação, Simone O. Marques é escritora e roteirista. Exerceu o trabalho no magistério até 2007, quando começou a se dedicar integralmente à carreira literária. Nestes 16 anos, escreveu 30 livros de gêneros diversos, como fantasia, realismo fantástico, distopia e infantil. Lançou o selo editorial Som Books, por onde publicou obras e sagas como “As Filhas de Dana”, “Os Amores de Clara”, “Triskle” e “Sabores de Sangue”. Especializou-se, ainda, em temas como mitologia e culturas celtas e também fez curso de audiodescrição. Autora nasceu em São Paulo e mora em Bertioga, cidade localizada na região metropolitana da Baixada Santista.


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